O Retorno da Magia em “Desencantada” e o Debate sobre a Escuridão em Hollywood
25 Novembro 2025A espera finalmente acabou para os fãs de contos de fadas, mas o cenário cinematográfico atual traz contrastes interessantes entre o brilho da fantasia e uma tendência visual cada vez mais sombria. A Princesa Giselle está de volta às telas com a estreia de “Desencantada”, dirigido por Adam Shankman, que chega exclusivamente ao Disney+ nesta sexta-feira (18). A sequência do sucesso “Encantada” retoma a história quinze anos após o clássico “felizes para sempre”.
Nesta nova etapa, Giselle (Amy Adams), Robert (Patrick Dempsey) e a agora adolescente Morgan (Gabriella Baldacchino) trocam a agitação de Nova York por uma vida suburbana em Monroeville. A comunidade, no entanto, é vigiada de perto por Malvina Monroe (Maya Rudolph), uma figura com intenções nada amigáveis para a família. Quando os problemas começam a surgir, Giselle, num momento de desespero, deseja que sua vida seja perfeita como no mundo mágico de Andalasia. O feitiço acaba saindo pela culatra, forçando a protagonista a correr contra o tempo para salvar tanto sua família quanto sua terra natal antes da última badalada da meia-noite.
Reencontros e Novas Caras no Elenco
Para a alegria dos nostálgicos, o elenco original marca presença em peso. Amy Adams, hoje com 48 anos, retoma o papel da protagonista, trazendo na bagagem seis indicações ao Oscar e dois Globos de Ouro. Ao seu lado, Patrick Dempsey retorna como Robert. O ator, que se consolidou na TV com Grey’s Anatomy, é conhecido fora das telas por sua paixão pelo automobilismo e coleção de carros antigos. James Marsden também volta como o Príncipe Edward, o primeiro amor de Giselle, assim como Idina Menzel, que dá vida a Nancy Tremaine. Menzel continua sendo uma força tanto no cinema quanto nos palcos da Broadway e na música.
A produção também injeta sangue novo na franquia com antagonistas de peso. Maya Rudolph, ex-integrante do Saturday Night Live, interpreta a vilã Malvina Monroe. Para auxiliá-la, o filme conta com Yvette Nicole Brown (de Community e The Office) no papel de Rosaleen, e Jayma Mays (a Emma de Glee) como Ruby. No núcleo jovem, Gabriella Baldacchino assume o papel de Morgan, substituindo Rachel Covey do primeiro filme, enquanto Kolton Stewart vive Tyson Monroe, filho da vilã e interesse amoroso de Morgan, adicionando mais camadas de conflito à trama.
O Crepúsculo das Cores no Cinema Moderno
Enquanto “Desencantada” busca resgatar o colorido vibrante dos contos de fadas, uma polêmica visual tem dominado as críticas de outras grandes produções de fantasia. Recentemente, a sequência blockbuster “Wicked: For Good” tornou-se alvo de reclamações não apenas pela falta de cor, mas pela iluminação inconsistente, levantando uma questão recorrente entre o público: para onde foram as cores dos filmes?
Não é raro hoje em dia o espectador se pegar apertando os olhos, ajustando as configurações da TV ou apagando as luzes da sala apenas para tentar decifrar o que acontece em uma cena noturna. Essa tendência ganhou tração após as batalhas mal iluminadas da última temporada de Game of Thrones, gerando debates acalorados nas redes sociais sobre se a falta de visibilidade é uma escolha estilística válida ou um erro técnico.
O crítico de cinema Barry Levitt aponta que um passeio ao ar livre num dia comum oferece infinitamente mais cor do que um blockbuster contemporâneo. A ironia é palpável quando se observa que o universo de O Mágico de Oz, filme creditado por revolucionar o uso de cores no cinema, serve de base para produções modernas visualmente turvas. O jornalista Justin Chang, da New Yorker, questionou duramente a fotografia do novo Wicked, descrevendo-a como “ofuscante ou murk”, onde mal se distingue um macaco de um Munchkin, apesar do design de produção luxuoso.
Imersão ou Abstração?
A raiz dessa mudança estética é complexa. O Technicolor, usado no clássico O Mágico de Oz, permitia capturar cores vibrantes através de um processo químico dispendioso que separava a luz em faixas de cor, resultando naquela saturação “maior que a vida”. Com o avanço das câmeras digitais, a captura tornou-se mais realista, porém perdeu-se a textura e a saturação estilizada inerentes à película.
Hootan Haghshenas, colorista digital, argumenta que estamos diante de uma direção estilística intencional, que privilegia contrastes baixos e paletas suaves para criar um visual naturalista. Segundo ele, engana-se quem pensa que imagens escuras são apenas estratégia para cortar custos de efeitos visuais; muitas vezes, há um trabalho imenso para alcançar essa aparência “sem esforço”.
Por outro lado, o produtor Jon Constantinou vê isso como um embate entre abstração e imersão. A abstração exige que o público use a imaginação para se relacionar com a imagem, enquanto a imersão — tendência forte na era digital — usa lentes angulares e proximidade da ação para fazer o espectador sentir que está dentro daquela realidade. Diretores buscam um mundo visual que pareça fundamentado e emocionalmente verdadeiro, onde a escuridão adiciona tensão e intimidade. Resta saber se o público prefere a “realidade” sombria ou se, como Giselle, ainda anseia pelo brilho mágico de outros tempos.

